Esta crítica vai começar e acabar com um incentivo directo para irem ver o filme.
Vão ao cinema ver o filme!
Considero que a minha maneira de criticar coisas se compara aos traillers Honestos que se encontram no Youtube : sem tretas, directos e descomplicados. O que muitas vezes equivale a ser do contra. Mas não desta vez.
Porque a verdade é que é impossível não gostar do filme.
Comecemos pelo ponto mais simples e essencial do filme : Benedict Cumberbatch.
Não sou fã. E por isso mesmo sei que está de topo. Há qualquer coisa no seu desempenho sempre triste e introvertido que me põe em dúvida quanto a estar a representar ou a ter sempre papéis adequados à sua personalidade. No entanto tenho de dar o braço a torcer que dentro do mesmo tipo de personagem a sua versão de Alan Touring é perturbante.
No bom sentido. No sentido em que se sai da sala com uma enorme revolta em relação à vida sofrida daquele Génio. A sensação que tive foi de que Benedict Cumberbatch ia desfazer-se em lágrimas a qualquer momento, como se fosse doloroso meter-se na pele de Alan Touring, transmitindo na perfeição a luta interior e com o exterior que o mesmo teve durante a sua vida.
Pensando em prémios neste aspecto, temos este ano o mesmo problema de sempre : um desempenho muito forte, mas que muito provavelmente não irá vencer porque alguém escolheu ser igualmente forte mas utilizando a cartada que mexe com as emoções o pessoal (sim, estou a falar de Eddie Radmayne com a Teoria de Tudo – sendo a cartada desempenhar alguém com uma vida fora de série – e que estreia em duas semanas).
E basicamente tudo neste filme serve para fazer brilhar Alan Touring (o que é bastante compreensível visto que nenhum dos prémios, perdões póstumos ou homenagens que compensem a vida de sofrimento infligido pela sociedade):
O enredo tem o mínimo de reviravoltas necessárias para prender a atenção do público.
O humor é feito à custa não de piadas forçadas mas da inadaptação da personagem principal à dita normalidade – o que ajuda o público a ganhar gradualmente a percepção da inadaptação social do mesmo.
No entanto a contextualização histórica fica um pouco a desejar. É refrescante ver um filme sobre a 2ª Guerra que não encaixe em: Filme que condena os Alemães ou Filme que redime a sociedade Alemã. Não havendo grandes possibilidades de fazer cenas sobre a Guerra em si, sendo o enredo sobre a estratégia e não sobre a acção, havia certamente possibilidade de introduzir a ideia sem ser com os muito batidos flashes a preto e branco filmados na época.
O que penso que também fica a desejar um pouco é a explicação da criptografia envolvida na história. Certo, o filme não é sobre criptografia. Errado, a criptografia tem muito interesse para o enredo. Pessoalmente sabia de antemão o funcionamento do Enigma e vi o Código Da Vinci, no entanto não me espantaria com muita confusão a derivar desse ponto.
Das restantes personagens fica apenas a seguinte nota : a Keira Knightley está a surpreendentemente velha, o Tywin Lannister não sabe não fazer papel de mau. Parece ser uma opinião redutora no entanto não consigo avaliar nada de extraordinariamente bom ou mau; possivelmente porque ninguém consegue brilhar para além de Benedict Cumberbatch.
E sim, eu sei que houve quem dissesse que foi um dos melhores desempenhos da vida de Keira Knightley. A essas pessoas eu mando ir ver mais filmes dela.
Em termos biográficos descansem as preocupações, ninguém tomou as liberdades de autor sugeridas pelo trailler…
Deixo para último o aspecto que me pareceu ser o mais refrescante do filme: a Realização.
É possivelmente dos filmes mais íntimos que vi desde há muito tempo. Há uma verdadeira ligação que se estabelece entre o espectador e a tela e por muito que Benedict Cumberbatch faça esta vitória vai para a realização. Recorrendo ao cliché de ter um diálogo com o público, a conversa estabelecida é longe de previsível.
O mote do filme é “Por vezes as pessoas de quem menos se espera aquelas que fazem aquilo que ninguém espera”.
A verdade é que tendo expectativas se consegue ser surpreendido. São duas horas interessantes que realmente nos prendem e nos põem a pensar até naquilo que não é um foco principal na história.
Não sendo uma obra prima em termos de imagem, eu compreendo a relutância em comprar um bilhete para ir ao cinema ver aquilo que se pode ver em cada, mas asseguro que vão querer saber daquilo que toda a gente vai estar a falar!
Trailler Legendado:
Link IMDB : http://www.imdb.com/title/tt2084970/?ref_=nv_sr_1
Pontuação d’Ela : 8.5/10